terça-feira, dezembro 18, 2012

ADRIANO NUNES & LARINGES DE GRAFITE




ADRIANO NUNES & LARINGES DE GRAFITE - Conheci o poeta Adriano Nunes numa iniciativa da poetamiga gaucha Carmen Silvia Presotto. Ela fez um suspense danado, conversamos horas e horas sobre o citado poeta sem que eu tivesse visto uma só linha do que ele já havia escrito. Um absurdo, confesso imperdoável a minha absoluta ignorância. 


Eis que, exatamente durante a III Flimar, é que tive a oportunidade de ter um contato direto com a poesia dele. E ao apreciar o Laringes de Grafite recém-lançado pela Vidráguas, pude ser impactado pela força poética, findando com um misto de admiração, surpresa e satisfação. Confira:


UM POETA NÃO SE FAZ SÓ

Um poeta não se faz só
De palavras e pensamento
Nem do que tanto pulsa adentro.
Um poeta não se faz só.

Às vezes, pousa o próprio invento
No acaso, como se por dó,
Numa plena ilusão, mas só.
Às vees, poupa-o do alheamento.

Todo poeta não é feito
Sob o forte efeito do sonho,
Do apelo pratico do peito

Nem do risco mais enfadonho.
Todo poeta, ser suspeito,
Tem de tudo medo medonho.

(Na foto: Carmen, Adriano, o escritor e jornalista da TV Senado, Mauricio Melo Junior e eu) 

ADRIANO NUNES – Ele é médico, servidor público federal e, sobretudo, poeta. É também tradutor e editor do excelente blog Que faço como que não faço, onde publica seus poemas e traduções dos poetas mais importantes da Literatura Universal, quando passou a ser festejado por críticos e poetas de renome nacional. Agora ele publica seu primeiro livro, Laringes de Grafite, ampliando seus horizontes e firmando sua presença entre o que há de melhor na poesia contemporânea.


ERA PARA SER UMA CANÇÃO DE EXÍLIO

Meu canto de exílio
É o ruído de um riacho quase seco,
É isso.

Nunca vi sabiás
Nem saberia dizer como é um
Palmeiras? Só as conheço

De longe.
Mas meu coração abriga
O infinito.

MERCANTILISMO

Eu me consumo

Sonho
Sangro
Sinto
Surto

Um dia
Devolvo-me ao mundo

Corpo
Alma
Sombra
Sumo

DO QUE QUER SER CONCEBIDO

Palavras são para isso,
Sim, para inventar
O paraíso.
Aprendi
Assim
Comigo.

Prometi tudo
Mesmo a mim,
Mas menti.
Palavras são para isso,
Digo, para desafiar
O íntimo.

Pronto.
Admito:
Palavras são para isso,
Repito, para cantar
O infinito
Do que quer ser concebido.

PRA TUDO

Todos os dias,
Apareciam-me muitas perguntas,
Premeditadas,
Sonhadas,
Sentidas,
Dadas ao tudo-nada,
Desenhadas,
Enfileiradas,
Juntas,
Sobre tudo.

Eu tinha nove anos e já
Sabia
- Ai, como eu sabia! –
A única resposta

Pra tudo:
Poesia.

O POEMA

O poema é
Essa sala de estar
Onde – desafiando o
Infinito –
Umas às outras, as palavras
Passam a se conhecer
Perigosamente melhor.

PARA TANTO

As sobras do que me penso
Assombram-me,
Somam-se às sombras
Dp que me sinto e
Soltam-se de si,
Dessa miríade de cores de um só sonho,
Do sumo sulfúrico
Do que me componho,
Em silêncio,
Em sintético silêncio,
Às cegas.

Certa vez,
Abriguei em meu âmago
Um tempo distante,
Um lugar ausente,
Algo sem nome, talvez,
Com outro nome,
Todos os nomes.
Que era?
A palavra por dizer,
Aquela falta,
Aquela angustia

A rasgar o tórax,
A expandir as jugulares,
A pôr lágrimas na face,
A afastar-me da tez da felicidade,
Mesmo tarde,
Mesmo nas tardes
De sol e de risos e de encontros
Íntimos, alma e corpo
Desfeitos, feitos
Um para o outro,
Quase dor.

Por essa pequena seleção - e digo mesmo ser uma miúda reunião porque no livro outros tantos bons poemas mereceriam mais que destaques aqui, o que me faria ter que copiar todo livro -, trago uma mera demonstração do fôlego e da grandiosidade do poeta. E digo mais: tudo aqui exposto é muito ínfimo mesmo. Para constatar, o livro Laringes de Grafite, do Adriano Nunes, é apresentado simplesmente pelo poeta da Academia Brasileira de Letras, Lêdo Ivo, prefaciado pelo poeta, filósofo e compositor Antonio Cícero e com comentários de Antonio Carlos Secchin e José Mariano Filho. Está constatado quão insignificante é tudo isso que trago aqui. Tem muito mais: leia a obra. Eu recomendo: o livro é bom. Interessados em adquirir, acesse a Vidráguas.

(Na foto: o ator Chico de Assis, Adriano, Carmen, eu e o poeta, tradutor e professor universitário Ricardo Cabús).

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