domingo, fevereiro 27, 2011

ENDRE ADY: POESIA HÚNGARA



ENDRE ADY (1877-1919)

RECORDAÇÃO DE UMA NOITE DE VERÃO

Do alto do céu um anjo enraivecido
tocou o alarme para a terra triste.
Endoidaram cem jovens pelo menos,
caíram pelo menos cem estrelas,
pelo menos cem virgens se perderam:
foi uma estranha,
estranhíssima noite de verão.
Nossa velha colméia pegou fogo,
nosso potro melhor quebrou a pata,
os mortos, no meu sonho, estavam vivos
e Burkus, nosso cão fiel, sumiu,
nossa criada Mári, que era muda,
esganiçou de pronto uma canção:
foi uma estranha,
estranhíssima noite de verão.
Os ninguéns exultavam de ousadia,
os justos encolhiam-se e o ladrão,
mesmo o mais tímido, roubou então:
foi uma estranha,
estranhíssima noite de verão.
Sabíamos da imperfeição dos homens,
de suas grandes dívidas de amor:
mas era singular, ainda assim,
o fim de um mundo que chegava ao fim.
Jamais tão zombeteira esteve a lua
e nunca foi menor o ser humano
do que foi nessa tal noite em questão:
foi uma estranha,
estranhíssima noite de verão.
Perversamente em júbilo, a agonia
sobre todas as almas se abatia,
os homens imbuíram-se do fado
recôndito de cada antepassado
e, rumo a bodas de um horror sangrento,
seguia embriagado o pensamento,
o altivo servidor do ser humano,
este, por sua vez, mero aleijão:
foi uma estranha,
estranhíssima noite de verão.
Pensava então, pensava eu, todavia,
que um deus negligenciado voltaria
à vida para me levar à morte,
mas eis que vivo e ainda sou o mesmo
no qual me converteu aquela noite
e, à espera desse deus, recordo agora
uma só noite mais que aterradora
que fez um mundo inteiro soçobrar:
foi uma estranha,
estranhíssima noite de verão.

UM POETA FUTURO

Quando acabar nos jardins húngaros
a raça humana: a rosa – um santo
moço tristonho há de ficar
e ele terá razões de pranto.
Invejo-te, moço futuro,
que cantarás tua cantiga
quando não mais houver quem ouça
ou sofra a nossa praga antiga.

NA VINHA DOS ANOS FANADOS

Festejo na vinha dos anos
Fanados e em minha garganta
Brota o canto vindimo, ufano.
A chuva de estanho me adensa
Com pâmpanos vermelhos-azuis
Cinjo minha cabeça pensa.
Contemplo trapos de sarmento
Envergo minha jarra tonta
E sigo acima, altivo e lento.
Talvez pare no cimo,
Lanço ao chão minha jarra de vinho
Desejo a todos bom descanso.

ENDRE ADY (1877-1919) – O lendário escritor e jornalista pioneiro da literatura húngara moderna, o austro-húngaro Endre Ady, nasceu na aldeia remota de Érmindszent no Império Austríaco-Húngaro, atual Romênia. Seu primeiro livro de poemas apareceu em 1899 e de 1900 até sua morte em 1919, Ady escreveu mais de mil poemas e 10 livros de poesia, além de contos e artigos, enquanto derivava de um jornal para outro, muitas vezes, como correspondente estrangeiro e escrevendo para a revista Nyugat. Está situando no Simbolismo húngaro, sendo, ainda, representante introdutor das vanguardas naquele país. é em torno dele que se dá o conflito entre progressistas e tradicionalistas. Na sua obra ele experimentava os problemas de quantos tinham interesse numa revolução, com uma visão grandiosa e histórica, ampliada pelas temporadas de Paris, faendo-o apalpar o atraso de seu país, onde o feudalismo se perpetuava. O contato com o vitalismo nietzschiano fiera-o rejeitar os tabus da moral burguesa, ficando convencido de que o artista tinha de ser diferente em tudo, levando às escancaras a vida boemia mais desinibida, atraindo propositadamente o anátema dos puritanos. Seu instinto e sua experiência do jornalismo permitiam-lhe captar o que a atualidade tinha de mais significativo, além de dar cunho polemico a todas as suas manifestações. Como visionário verdadeiros, Ady personifica em monstros míticos os grandes problemas da época e os de todos os tempos. Seus maiores poemas brotam de comparações inesperadas, estarrecedoras. Neles declara guerra à tirania sangrenta do Ouro, ao marasmo da Sáfara húngara, aos inimigos da renovação nacional, às inibições do pudor, desnudando os próprios conflitos íntimos, suas oscilações entre saudade e revolta, ânsia de pureza e sonhos de erotismo atrevido, Oriente e Ocidente, instinto e cultura. Ele morreu de pneumonia em Budapeste, em janeiro de 1919, poucos meses após ser eleito presidente da Academia Vörösmarty. Traduções de Nelson Ascher.

FONTES BIBLIOGRÁFICAS
ADY, Endre. Poemes. Paris: Don Langues/Seuil, 1951.



FONTES BIBLIOGRÁFICAS
ADY, Endre. Poemes. Paris: Don Langues/Seuil, 1951.

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