sexta-feira, julho 03, 2009

POETAS DO RIO DE JANEIRO



RODRIGO DE SOUZA LEÃO

POEMA

depurei
depurei
depurei

acabado
acabado
de caber

dentro
entro
em você

de mim
o fim
enfim

UMA CERTA CONSCIÊNCIA DAS COISAS

O louco olha a coisa e vê um monte de coisas
Um monte de esquinas
Um monte de setas apontando para onde ir
Um monte de sapos a engolir
Um monte de remédios para tomar
Um monte de loucos no espelho e ao seu lado
Um monte de carne humana esperando na fila de humanos
Um monte de trens vindo em direção contrária
Vê o longo espelho que é o metrô correndo
E sua imagem se distorce em um milhão de outras
Um monte de piscinas vazias nas mansões abandonadas
Um monte de câmeras captando-o no semáforo
Um monte de sêmen inundando a mão
Um monte de sapatos que o seu engraxate brasileiro tem que engraxar
Um monte de crianças andando pela noite
Um bando de caras correndo atrás de uma bola
Um monte de bolinhas de sabão flutuando com vocês dentro
Um monte de famílias que perderam seus filhos
O louco olha uma pessoa e só a vê quando ela o ama
O louco está ficando cego também

ICEBERGS DERRETENDO

Eu acho sinceramente
Que não sou nada
Que só vejo água neste deserto

Tudo que eu sou
Me enfada

Porque não sou nada
Ando de mão dada

Com a morte

Teria maior sorte
Se isso fosse por esporte

Mas não o é
É meu pesadelo

O desgelo dos anos
Na geleira dos dias

TUDO É PEQUENO

Tudo é pequeno
A fama
A lama
O lince hipnotizando a iguana

O que é grande
É a arte
Há vida em marte

O AMOR NA GELADEIRA

A maneira da água
O gelo se adensa
A tensão se sobrepõe

Há camadas de desterro
Naqueles olhos que se tocam
Beijando a pele da córnea

Enfim quem sabe na ponta
Do desejo que se cega
Possa ser tatuada a luz

AQUI

Abismo sinto vindo de minha boca

Pitadas de desequilíbrio aqui e ali
Uma queda distante até o chão

Uma queda constante desde o desvão
Do vão central da ponte azul

E aquele infinito todo rugindo
Impropérios fartos de falsa dicção

Trovões que abrem o céu em mil
Caindo ainda estou sempre

Não peço nada para mim nem para ninguém
Quero o exato ato de cair e o frio

Na espinha que comicha toda
Só o deserto me alegra tanto quanto ela

Abre os braços para as palavras que virão
Para o soco a dor o coração

Tudo deixou de ser pra ser eterno
Não sei se estou no céu ou no inferno

SURTO

1. Pânico no circo
aladodas têmporas

Endorfinas macaqueando
a goiabada pineal

Volts em volta
Eletrodos todos

De branco culpados
culpas pecados

Haldol no leite
Ralo do tempo

Clitóris de plástico
na sopa de adrenalina

2. Nódoas nuas cristalizadas na nuca
Nunca injete tudo

3. Camisa sem mão sem mangas
Nos olhos apenas antolhos

Na janela áurea de peristilos
punção de morte fode

4. Peixes fisgando anzóis comicham no corpo
Baleias de chupeta

5. Na veia sossegada o leão caminha
inválido de juba cortada, cuspindo
vida curta

Em curto circuito fechado
faixas vendas ferem as paredes

Sem degraus as pilastras
Sem grade degrade

Degradado de sol
de lua

Chuva desbotada
Eletrochoque natural

Enguias guiam os volts
na cabeça dos cegos de si

FLATULÊNCIA

No vento
O litoral da pele
Espumando

Necropsia
Auto-retrato
Do nada

Impurezas
Sangues
Sugando

Na sopa
Da gordura
A válvula

Vasculha
A luz
Mitral

CONSIDERAÇÕES ALEATÓRIAS SOBRE ANIMAIS

azul veludo sobre azul piscina
olhos que piscam o caribe inteiro
outro meteoro
outra crina de cavalo que voa sozinha
ele segura a cabeça de alguém
olhando mais de perto podemos ver o vírus
matamos seres vivos quando tomamos banho
ah, as bactérias e os mínimos seres que habitam a nossa pele
rubro olhar que exorciza o ritual
maconha e veias dilatadas do olho esquerdo
a tecla delete do computador
tem certeza que deseja deletar tudo ou
salvar como
ou cuspir na tela
ou ouvir Mozart
mais uma vez antes das cinco
que é a hora que você desmaia todo o dia
e não sabe se volta
com costeletas estranhas
estas de porco
o porco berra tanto quando é castrado
que quase sinto em mim sua dor

RODRIGO DE SOUZA LEÃO (1965-2009) – O poeta, músico e jornalista carioca, Rodrigo de Souza Leão, é autor de dos livros "Há Flores na Pele" (Ed. Trema, 2001) e Branco & outros poemas (Col.pesa-nervos), teve suas resenhas e reportagens publicadas em O Globo e seus poemas publicados nas revistas Coyote, Oroboro, Poesia Sempre, El Pez Náufrago (Mexico), Et Cetera, no Correio das Artes, Babel e fez parte da I Mostra de Poesia Carioca. É autor de vários e-books, entre eles entre eles Impressões Sob Pressão Alta, 25 Tábuas, No Litoral do Tempo e Síndrome, todos pela Virtual Books. Foi premiado no Concurso de Contos José Cândido de Carvalho 2002 e foi incluído na antologia Na virada do século – Poesia de invenção no Brasil. Foi repórter e editor do programa Informe Imobiliário, TV Corcovado Rio, canal 9. É músico. Editava o sitio CAOX, co-editor da Zunai – Revista de Poesia e Debates, os blogs Pesa-Nervos e Lowcura e foi Poeta do Mês do Guia de Poesia. Recentemente realizou uma exposição de 21 imagens de sua autoria na rede. Veja a minha entrevista realizada por Rodrigo de Souza Leão. Aqui, Rodrigo, poetamigo, nossa homenagem.

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