domingo, março 01, 2009

ENTREVISTA: KATIA VELO



KATIA VELO – A artista plástica, fotógrafa e professora paulista Kátia Velo, é bacharel em Letras pela Faculdade Anhembi/Morumbi-SP e é especialista em História da Arte Moderna e Contemporânea. Já participou de várias mostras, como a 3ª. Muestra Internacional de Arte Postal Ciudad de Ceuta, Espanha e a da Fundácion Romulo Raggio, Buenos Aires Argentina, realizou inúmeras exposições e atuou como Chefe de Divisão de Artes Plásticas e Música, na Secretaria da Cultura (SJP),em 2004. E desde 2005, atua como Professora de Artes Plásticas e História da Arte. Participou de exposições coletivas em Buenos Aires no Museu Rômulo Raggio e na Espanha, no Museu de Ceuta. Possui obras em acervos particulares e em órgãos oficiais: São Paulo, Portugal, Argentina e Polônia. Recebeu em 2006, Diploma em reconhecimento ao trabalho desenvolvido na área de jornalismo, na Câmara Municipal de Vereadores de SJP Freqüenta desde de 2006 o Atelier de Arte Contemporânea Edilson Viriato. É Conselheira Consultiva e Artística da ASCAR (Associação Cultural e Artística São-Joseense) e Vice-Diretora de Marketing da APAP Atua como colunista de arte no site GuiaSJP, www.guiasjp.com.br/katiavelo e também do Arte Paranaense http://www.arteparanaense.art.br/katia.html Ela reside desde 2003, em São José dos Pinhais, no Paraná.

Gentilmente ela concedeu esta entrevista pra gente.

LAM - Katia, inicialmente vamos para a pergunta de praxe: como foi e quando se deu seu encontro com as artes plásticas?

Desde pequena, sempre me encantei por cores, aos seis anos usava canetinhas SILVAPEN para pintar o rosto, naquela época (década 70), usava-se maquiagem carregada “tipo mexicana” que eu achava linda! Além disso, o meu maior sonho de consumo infantil, era uma caixa de lápis de cor de 24 unidades. Hoje isto pode até parecer banal, mas quando via uma era como se visse uma caixa de jóias. No entanto, na minha cabeça, ser artista plástica era apenas um sonho. Tanto que quando fiz um teste vocacional e o resultado foi artista, até estranhei, pois pensava que era coisa de artista de TV rsrsrs. Ao lecionar língua portuguesa e literatura, sempre buscava trabalhar em conjunto com a professora de artes. Já, no início do ensino fundamental nas 5ª. e 6ª. séries um dos meus principais objetivos era estimular a leitura. Para isso, levava-os em bibliotecas (até nas Bienais de Livro). Depois, fazia círculos para comentar sobre a leitura e finalizava motivando os alunos a criarem um livrinho de autoria deles. E, toda a parte de ilustração, capa, etc., era elaborada junto com a professora de artes. Mas, somente quando vim morar no Paraná e que tive tempo para dedicar-me às artes visuais.



LAM - Quais as influências da infância e adolescência que marcaram e determinaram a sua formação artística?

Como disse anteriormente, não pensei em ser artista plástica desde pequena. Não havia (e não há) ninguém da família ligada às artes. Mas, isto certamente é intrínseco a nós. O olhar, o sentir, o pensar do artista é diferente. E, a minha opção pela literatura, talvez (inconscientemente) se dá pela proximidade entre as artes.



LAM - Você já foi selecionada para participar de diversos eventos, salões, mostras, exposições, entre outras atividades na área de arte visual, trazendo uma arte figurativa e abstrata, expressa por meio de uma diversidade de séries e técnicas. Como a artista flagra o seu estar no mundo e o seu olhar na vida?

Participei, principalmente de exposições coletivas e 10 individuais em 05 anos. Não acho que isto seja tão positivo. Inicialmente, queria pintar de tudo, até pelo meu temperamento bastante agitado. E quando digo pintar tudo não exagero, pois pintava telas, parede, móveis, roupas, etc. além de muita variação com relação à técnica (óleo, acrílica, mista) e estilo (de acadêmico a contemporâneo). Somente quando comecei a fazer workshops e orientação com o Edilson Viriato é que comecei a buscar uma reflexão e questionamento sobre o meu trabalho e mais sobre mim mesma.



LAM - Como dito anteriormente, você transita por uma diversidade técnica, se sobressaindo os arabescos e, agora, os mini-arabescos. O que levou a atuar nesta modelo?

Esta diversidade técnica foram “tentativas”, ensaios. A melhor definição para estes “passeios artísticos” foi dada por João Coviello
Mestre em Filosofia, Especialista em História da Arte pela PUC-PR "Katia Velo não transita entre a pintura figurativa e a abstrata por acaso. Nem passa por várias técnicas, como a fotografia, também por acaso. Há uma vontade artística explícita que a faz superar os limites dos suportes, com o objetivo de satisfazer suas necessidades de expressão, que já foi definida, pela própria artista, como catarse, no sentido clássico.” . Meus últimos trabalhos da série “ARABESCOS” possuem forte apelo ornamental através de uma linguagem simbólica significativa. Busco encantar o espectador transmitindo alegria e emoção. Essas obras foram inspiradas na arte oriental e também indubitavelmente nas obras de Beatriz Milhazes. São pinturas de motivos florais em forma de caleidoscópios feitos através de uma combinação inusitada de curvas, caracóis, flores e rococós. Já os mini-arabescos são trabalhos de pequeno tamanho (10x10) para duas exposições coletivas que estão acontecendo. Uma no Hotel Mabu e outra na Galeria Solar do Rosário, ambas em Curitiba.



LAM - Você também é fotógrafa que transita por inúmeras expressões técnicas, observando-se a natureza flagrantemente gestual e participativa na visualização de suas séries. Onde o olhar da artista se distingue na fotografia e na arte plástica?

A fotografia foi outro encontro em minha vida. Embora eu ame fotos, tenho caixas e caixas de fotografias, eu a via assim: uma maneira de registrar um momento em família. No entanto, na pós-graduação na EMBAP/PR (Escola de Música e Belas Artes do Paraná) dois professores me introduziram a este mundo visual, Mario Ramiro e Tadeu Chiarelli ambos professores da USP – Universidade de São Paulo. Para compreender um pouco melhor esta nova postura diante da fotografia, utilizo-me da frase de Susan Sontag do livro Ensaios sobre a fotografia: “... e naquele exato momento e numa fração de segundo, você organiza as formas que vê para expressar e dar sentido ao evento. É uma questão de pôr o cérebro, o olho e o coração na mesma linha de visão. É uma forma de viver.” Os dois trabalhos, diferenciam-se em tudo: tanto na criação, o processo e o resultado. Na pintura, uso e abuso das tintas, faço e refaço inúmeras vezes. Eu busco a pintura. É um parto fórceps. Já na fotografia é o resultado é leve, “clean” e é ela que me encontra. É como adorar um filho. Mas, nos dois casos existe o amor incondicional, como geralmente é o amor de mãe.



LAM - Você é formada em Letras e especialista em Arte Moderna e Contemporânea, atuando como professora na área. Observa-se, portanto, se tratar de uma pesquisadora. Há conciliação entre a atividade artística e a prática pedagógica? Você acredita que a arte pode contribuir para a educação? Como você a dicotomia brasileira entre a arte e a educação?

No meu caso, há total conciliação, pois atualmente ministro aulas de pintura em telas, portanto é algo realmente direcionado para as artes plásticas. Eu levanto a bandeira da tríade: educação/cultura/esporte como instrumento efetivo para uma sociedade mais justa, saudável e ética. E, em minha opinião a arte é primordial.

É a arte e a ciência. Retire-as ou desgaste-as
e não existirá mais império. O império segue
a arte e não vice-versa, como supõem os ingleses.

(William Blake)



LAM - Com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB - vigente, a introdução dos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN e a adoção dos Temas Transversais no processo educativo brasileiro possibilitarão uma maior adoção da arte e a sua contribuição no processo educacional brasileiro?

Tenho 14 anos de experiência ministrando aulas em escolas da rede pública (professora concursada) e privada. A LDB e a inclusão dos temas transversais já estão em pauta desde que iniciei a carreira. No entanto, devido a uma infinidade de questões, a realidade ainda é bem diferente do que está no papel. O mesmo acontece com a inclusão de crianças e jovens com necessidades especiais. Tudo o que está escrito é lindo, mas... A arte definitivamente possui um efeito transformador.

LAM - Como você vê o ensino da arte na escola brasileira?

Acredito que seja necessária uma grande mudança: começando pela valorização dos professores, através de uma reformulação do ensino, desde a capacitação dos professores, melhores condições de trabalho e salários mais atrativos. Os melhores profissionais não retornam para a sala de aula e isto continuamente, “empobrece” o meio acadêmico. Sem isto, não adianta introduzir bons projetos, como atualmente sobre a obrigatoriedade do ensino musical. Naturalmente sou uma pessoa muito otimista, mas com relação à escola brasileira, não dá mais para “enrolar” e transformar a profissão o professor em mártir. É preciso agir, agora, para que tenhamos algum resultado daqui a vinte anos.



LAM - Você, além das atividades artísticas e educativas, ainda atua no campo do Jornalismo, desenvolvendo trabalhos na área. Fale a respeito de como isto ocorre e de que forma você tem conciliado suas diversas atividades com a de colunista, observando como você vê o advento da internet e se esta tem contribuído para a difusão do seu trabalho e intercâmbio.

Com minhas colunas culturais (GuiaSJP, Inconfidencial e Arte Paranaense), consigo unir duas paixões - escrever e as artes. Atualmente a internet exerce grande poder de comunicação, antes pertencente apenas aos jornais e, principalmente, à televisão. No entanto, o número de usuários da internet tem aumentado de forma extraordinária, devido a sua rapidez, acessibilidade e globalização. O retorno que tenho obtido com a atuação como colunista é extraordinário para mim. E, certamente, o meu trabalho é visto por um número muito maior de pessoas. Além do prazer de divulgar trabalhos maravilhosos de outras pessoas. Os resultados são muito positivos. Foi citar apenas dois exemplos recentes: por causa dos sites, fui convidada (12/02/08) a fazer parte da banca de professores de um TCC - Trabalho de Conclusão de Curso na ESEEI – Escola Superior de Estudos Empresariais e Informática onde o tema era Sites Culturais. O outro é conceder esta entrevista a você (20/12/08)!!!



LAM - Quais os projetos que você tem por perspectiva de realização?

Adoro viajar (dentre as viagens que fiz no Brasil, várias cidades no Rio Grande do Norte, Ceará, Bahia, Minas Gerais, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro e Espírito Santo e está faltando PERNAMBUCO!!! e outros países: EUA, México, Portugal, Espanha, França, Holanda, Alemanha, Itália, Suíça, República Checa, etc. ) e, portanto, desejo viajar ainda muito, muito mais. Atualmente meu sonho de consumo é ser um Zeca Camargo rsrsrs. Além disso, acredito que as viagens influenciaram meu trabalho como por exemplo as Bienais de São Paulo e a Documenta de Kassel na Alemanha. Meus planos para os próximos anos são: aperfeiçoar meu trabalho, conseguir que o projeto de lei de incentivo que fiz em São José dos Pinhais seja aprovado, fazer mestrado em arte (depois doutorado), ter uma coluna impressa, ter um programa de TV, ser professora universitária, ter um ateliê próprio com galeria de arte (em um lugar bem charmoso), fundar uma ONG ou similar onde através da arte eu possa (juntamente com outras pessoas) ajudar pessoas carentes.

Essa a Katia Velo, obrigado.

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