quarta-feira, agosto 06, 2008

LITERATURA BRASILEIRA



SILVA ALVARENGA (1749 - 1814) – Nasceu em Vila Rica. Estudou no Rio de Janeiro e em Coimbra. Era um ardoroso defensor de Pombal e das idéias iluministas. Sua obra Glaura (1799). Pelos dados biográficos de Manuel Inácio da Silva Alvarenga se pode depreender que sua vida fluiu em parte em função das duas tendências ideológicas atuantes ao seu tempo. Como poeta, entretanto, foi ele obediente seguidor da tradição. Sua poesia lírica consubstanciada num livro apenas, Glaura, é quase um permanente esforço de subordinação a formas e temas consagrados, num preciosismo de quem requinta em obter algo de algo já esgotado e decadente. Todas as suas peças líricas de sua Glaura são em numero de cinqüenta e nove rondós e cinqüenta e sete madrigais. O rondó, forma poética medieval francesa, tem sua notabilidade em Guillaume de Machaut, Eustache Deschamps, Charles d´Orleans, devendo, originalmente, ser destinado ao anto e consistindo de tres estrofes, com um total de doze a quatorze versos, com duas rimas recorrentes. Variando o numero de versos e o esquema das rimas, o verdadeiro apoio fonético que em breve o caracteriza passou a ser a repetição do primeiro verso ao fim da segunda e terceira estrofres do rondó. Variação subseqüente, que se pode chamar rondel, consistiu em repetir, em numero maior de versos, o primeiro verso pela altura do oitavo ou de um dos seguintes versos e no fim do poema. Os rondós de Silva Alvarenga representam um fim de evolução da forma, como estrutura sensivelmente diferente. Consistem, quase todos, em quatro grupos de tres quadras, sendo repetida a primeira quadra, em forma de estribilho, no inicio de cada grupo assim como no fim do poema – o que totaliza, por conseguinte, treze quadras ou cinqüenta e dois versos. O verso, na grande maioria dos rondós, é heptassilabo, redondilha maior, salvo os do rondó que são pentassilabos redondilhas menores, e os rondós hexassilabos. Os heptassibilabos são, quase sem discrepância, acentuados na terceira e sétima silabas. Os pentassilabos, na segunda e quinta, e os hexassilabos, na segunda e sexta. O madrigal, originalmente italiano, confunde-se com a silva espanhola, praticada em língua portuguesa, consistindo de uma pequena serie de versos decassílabos e hexassilabos, em seqüência qualquer, rimando entre si sem esquema prévio de rimas.

A LUZ DO SOL – RONDÓ II

Luz do sol, quanto és formosa,
Quem te goza não conhece;
Mas se desce a noite fria,
Principia a suspirar.
Quando puro se derrama
Vivo ardor no ameno prado,
Pelas brenhas foge o gado
Verde rama a procurar.
E se o astro luminoso
Deixa tudo em sombra fusca,
Triste então o abrigo busca
Vagaroso a ruminar.
Luz do sol, quanto és formosa,
Quem te goza não conhece;
Mas se desce a noite fria,
Principia a suspirar.
Lavrador que aflito e velho
Sobre o campo endurecido
Ver deseja sobmergido
O vermelho sol no mar.
E se o úmido negrume
Tolda os céus, e os vales banha
Fita os olhos na montanha
Onde o lume vê raiar.
Luz do sol, quanto és formosa,
Quem te goza não conhece;
Mas se desce a noite fria,
Principia a suspirar.
Pela tarde mais ardente
O pastor estima as grutas
Onde penas nunca enxutas
Vê contente gotejar.
E se as trevas no horizonte
Desenrolam negro manto,
Com saudoso, e flébil canto
Faz o monte ressonar.
Luz do sol, quanto és formosa,
Quem te goza não conhece;
Mas se desce a noite fria,
Principia a suspirar.
Assim Glaura, que inflamada
Perseguiu aves ligeiras
Quer à sombra das mangueiras
Descansada respirar.
Entre risos, entre amores,
Se lhe falta o dia, chora,
E vem cedo a ver a aurora
Sobre as flores orvalhar.
Luz do sol, quanto és formosa,
Quem te goza não conhece;
Mas se desce a noite fria,
Principia a suspirar.

O AMANTE SATISFEITO - Rondó XXVI

Canto alegre nesta gruta
E me escuta o vale e o monte:
Se na fonte Glaura vejo,
Não desejo mais prazer.
Este rio sossegado,
Que das margens se enamora,
Vê co'as lágrimas da Aurora
Bosque e prado florescer.
Puro Zéfiro amoroso
Abre as asas lisonjeiras,
E entre as folhas das mangueiras
Vai saudoso adormecer.
Canto alegre nesta gruta,
E me escuta o vale e o monte:
Se na fonte Glaura vejo,
Não desejo mais prazer.
Novos sons o Fauno ouvindo
Destro move o pé felpudo:
Cauteloso, agreste e mudo
Vem saindo por me ver.
Quanto vale uma capela
De jasmins, lírios e rosas,
Que co'as Dríades mimosas
Glaura bela foi colher!
Canto alegre nesta gruta,
E me escuta o vale e o monte.
Se na fonte Glaura vejo,
Não desejo mais prazer.
Receou tristes agoiros
A inocência abandonada;
E aqui veio retirada
Seus tesoiros esconder.
O mortal, que em si não cabe,
Busque a paz de clima em clima;
Que os seus dons no campo estima,
Quem os sabe conhecer.
Canto alegre nesta gruta,
E me escuta o vale e o monte:
Se na fonte Glaura vejo,
Não desejo mais prazer.
Os metais adore o mundo;
Ame as pedras, com que sonha,
Do feliz Jequitinhonha,
Que em seu fundo as viu nascer.
Eu contente nestas brenhas
Amo Glaura e amo a lira,
Onde terno amor suspira,
Que estas penhas faz gemer.
Canto alegre nesta gruta,
E me escuta o vale e o monte:
Se na fonte Glaura vejo,
Não desejo mais prazer.

MADRIGAL I

Suave fonte pura
Que desces murmurando sobre a areia
Eu sei que a linda Glaura se recreia
Vendo em tu os seus olhos a ternura;
Ela já te procura;
Ah! Como vem formosa, e sem desgosto:
Não lhe pintes o rosto:
Pinta-lhe, ó clara fonte, por piedade
Meu terno amor, minha infeliz saudade.

MADRIGAL II

Ninfas, e belas graças,
]o amor se oculta, e não sabeis aonde:
as vossas ameaças
ele ouve, espreita, ri-se, e não responde.
Mas, ah! Cruel! E agora me transpassas?
Nunfas, e belas graças,
O amor se oculta; eu já vos mostro aonde;
Neste peito, (ai de mim!) o amor se esconde!

Veja mais Silva Alvarenga.

FONTE:
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