sexta-feira, junho 20, 2008

PRIMEIRA REUNIÃO



Imagem: Mulher chorando, de Pablo Picasso.

A LÁGRIMA DE NERUDA

Luiz Alberto Machado

Meus conterrâneos, eis minha missiva:
Estamos próximos do final do século
Às portas de uma nova era
Rogo, portanto, a paz
Não difiro de nada
Sou eu procedente do índio botocudo
De negros escravizados e de brancos degredados de Portugal

No peito um canto para Neftáli Reyes
Contra os que se devoram no dia e na noite.

No peito o meu canto com a nossa dessemelhança que é o tiro que dizimou Balmaceda fomentando nossas hostilidades.

Nosso suor ainda é vendido a preço vil
A preço de cadáveres indígenas, negros e marginalizados.

As mulheres, nossas irmãs, são as mesmas
Nas favelas do Rio
Nas callampas do Chile
Nas jacabes do México
Nos barrios de Caracas
Nas barriadas de Lima
Nas vilas miséria de Buenos Aires
Nas catagrilles de Montevidéu
E uma bola de cartola ainda determina o rival nos gramados de Santiago do Chile.

Meus conterrâneos, eis minhas palavras:
A esperança ainda é o nosso amuleto na estética de Huidobro: a precisão de um armistício e de um sonho maior que o de Bolívar.

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.

VEJA MAIS:
PRIMEIRA REUNIÃO
CRÔNICA DE AMOR
MÚSICA