quinta-feira, abril 03, 2008

POETAS DO PARANÁ



DOMINGOS PELLEGRINI

POESIA AMOROSA

(...)
Os cabelos eram sem cor definida
A cama era bamba e tremia como eu
O nome era Aparecida
Depois virou lembrança
Mas o preço valeu pro resto da vida
(...)
Primeiro amei como quem se castiga
Depois amei querendo castigar
Abraçava com falta de ar
Cada palavra era uma intriga
Mas um dia o amor me descobriu
Apesar dos perigos me libertou
Mesmo com muito medo me despiu
E apesar de mim enfim o amor me amou
(...)
O coração, meu bem, é que nem impressão digital
Diferente em toda gente
Daí que você me ama de forma tal
E eu te amo também mas de outra forma
De modo que com o tempo
E as deformações comuns
O amor em contratempo se transforma
E entre ser o que é ou tornar-se outro ser
Para agradar alguém coração nenhum se conforma
(...)
O maior peso do mundo
Está no meu bolso
Em forma de telegrama
(...)
Melhor sua lembrança ficar como o poente
Lá fora da janela morrendo simplesmente
Melhor ficar parada sol que viaja embora
(escurece a lembrança não verei se ela chora)
Melhor escurecer as manhãs da memória
(no hotel três estrelas duas lágrimas apenas na janela)
(...)
E quando sentava Pessoa no café a versejar
Que pensava o garçom? Quanta gorjeta me dará?
Mas há a possibilidade poética mais que estatística
De algum garçom ter pensado esse até parece artista
Sartre punzou
Simone resmungou:
- Foi você, Jean Paul?
Ele bocejou:
- Quem mais?
E também resmungou:
- Eu sempre digo cama de casal é um perigo:
acaba-se a arte mesmo entre Beauvoir e Sartre
(...)
Lao Tse:
O muito no pouco
E tudo é nada
O som do silêncio
A força serena
A vontade maior de nada querer
Olhar e ver
Mudar sem movimento
Em tudo sr inteiro
E eternamente viver cada momento

ENTRETANTO O TEMPO PERGUNTA PRO TEMPO QUANTO TEMPO O TEMPO TEM...

Mas acertei contas com o passado
Afinal de contas já passou
Tudo acontece uma vez só
O dia amanhece vamos virando pó
E nada espero do amanhã
Primavero no coração
Outro dia virá do ninguém sabe
Tão certo como hoje vai para nunca mais
A eternidade está inteira no momento
Seja apenas o vento ou golpe de samurai

MEU PAI, O QUE É O SUCESSO?

Se meu talento tivesse menos vergonha
Se não fosse honesto inclusive comigo
E se não acreditasse tanto em sonhos
E não ajudasse amigos e até inimigos
Se pouco apreço tivesse pelo trabalho
Se tivesse saco para entoar estribilhos
E se fosse um puxa-saco do caralho
Eu seria um homem de sucesso, filho!

MEU TIO, O QUE É O HOMEM?

O homem é um aquabicho:
No elevador odeiam-se vizinhos
E cumprimentam-se a resmungar
Erguem muros com pequenos gestos
Os adultos dividem-se em partidos
Ignoram-se meninos e meninas
E dão-se as costas para não se olhar
Os olhos vertendo rancor e magoa
Mas na piscina
Jogam-se todos na mesma água.

DOMINGOS PELLEGRINI – O premidadíssimo escritor, jornalista, publicitário e poeta paranaense Domingos Pellegrini é autor dos livros Terra Vermelha, O Caso da Chácara Chão e O Homem Vermelho, dentre outras obras. tendo por estas duas últimas obras ganho o Prêmio Jabuti 2001 com o romance "O caso da chácara chão", Editora Record.

FONTE:
PELLEGRINI, Domingos. Poesia amorosa. Londrina/PR: Terra Vermelha, s/d.
_________. O tempero do tempo. Londrina/PR: Terra Vermelha, a/s.

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