quarta-feira, abril 02, 2008

POETAS DE PALMARES



CALAZANS ALVES D´ARAÚJO

HAIKAIS

Escuto o flauteio
Do sabiá-da-mata que há
Dentro do meu seio.

A flor desfolhada
Perdeu o valor: morreu,
Não vale mais nada.

TROVAS

Nasci no Brasil: me orgulho
De ser daqui do Nordeste
Onde as mulheres são lindas
E os homens cabras-da-peste.

Vendo da mulher o riso
Diz a feroz onça preta:
- Não torço esse meu sorriso
por essa horrível careta.

Catulo morreu, foi pro céu,
Havia luar.
São Pedro perguntou: - É trovador?
Pode entrar.

Quanto mais galopa o tempo,
Corre veloz, vai-se embora,
Mais meu coração te ama,
Busca e quer, muito te adora.

Eu sou como aquele ramo
Da roseira, que ficou
Muito triste, sem a rosa
Que mão perversa arrancou.

O vento desfolha as flores,
Jogado-as no pó do chão.
Fez assim com os meus amores
A cruel ingratidão.

Vi Susana dando alpiste
Ao seu lindo passarinho.
Como eu fiquei tão triste,
Por não ser o passarinho!

Mesmo que distante, amor
De mim estejas, eu vejo
Tua presença ma flor
Que leve aos lábios e beijo.

O beijo da nossa linda
Morena pernambucana,
É gostoso como o mel
Feito da cana-caiana.

Quando Ziza por mim passa,
Eu me ponho a suplicar:
- Nossa Senhora da Graça
não deixe Ziza casar....

Ando louco por teus beijos,
Ansioso por teus braços,
Quero morrer nos teus lábios,
Preso às grades dos teus braços.

Gostei de ver a Nitinha,
Com seu seio quase nu,
A triturar no caitetu
A mandioca da farinha.

Enclausurei teu amor
Na jaula do meu desejo.
Só conheço um domador
Para amansá-lo: o meu beijo.

Eu sou seu, você é minha,
Somos os dois – galho e flor
Juntinhos, amando e rindo,
Felizes no nosso amor.

LONGES INDECISOS

Intermináveis longes indecisos
Têm sua permanência na distância
Onde os ocasos de festivas cores
Se revestem re rútilas auroras.
Movimento de folhas, em compasso
De bolero insinua ébrios anseios,
Entre abraços e beijos evadidos
Das prisões invisíveis do desejo.
A paisagem reclama contra a ausência
Do seu corpo de branca tessitura
- flor e sonho buscando a cor longinqua
dos bonitos crepúsculos sem susto,
que descerram seus róseos cortinados
sobre o corpo da noite renascida.

CALAZANS ALVES D´ARAUJO (1902-1976) – autodidata professor em diversas cidades da região Mata Sul de Pernambuco, autor dos livros “Ao doce embalo da rede” (1961) e “O flauteio do Sabiá” (1973). Foi incluído na antologia Poetas dos Palmares.

VEJA MAIS:
POETAS DOS PALMARES
RÁDIO TATARITARITATÁ – LIGUE O SOM & CURTA!
PREMIO TATARITARITATÁ DE POESIA ALAGOANA
PUBLIQUE SEU LIVRO – CONSÓRCIO NASCENTE
TCC – FAÇA SEU TCC SEM TRAUMAS